terça-feira, 6 de maio de 2014

Por que ter e como criar um Diário Mágico?

Como havia dito, o A Lua de Caím está com uma parceria com o site Ocultismo Brasil. Este é o primeiro texto extraído de lá. Aproveitem!

O processo de escrita de um diário mágico é talvez o procedimento mais esquecido dentre os círculos de estudo atuais. Muitas vezes nos questionamos se obtivemos efeitos oriundos de nossas práticas e a resposta para esta pergunta não pode ser obtida se não tivermos com o que comparar e nivelar
supostos efeitos. Para que possamos fazer isto, a ferramenta que devemos utilizar é nada mais nada menos que o diário mágico. Sua construção e uso não é o foco deste artigo, mas sim a importância de construirmos tal ferramenta e como seu uso influencia nossos resultados e avanços na Senda.

Paremos por um momento para imaginar uma repartição pública. Esta repartição será a sua mente. Olhando por fora ela parece um prédio muito belo e organizado, mas se olharmos por dentro e com calma, veremos que a confusão é generalizada. Onde deveriam estar arquivos muito bem datados e guardados, estão pilhas e mais pilhas de pastas que nunca foram organizadas. Como estas pilhas são muito grandes, não podemos esperar que, mesmo utilizando o máximo de sua força, você seja capaz de organizar tudo em tempo hábil para poder receber novas pastas sem que elas formem novas pilhas.

Assim são nossos pensamentos e lembranças. Pilhas de arquivos guardados na mente que podem ser perdidos se o menor sopro de vento adentrar o prédio. Mas, como podemos organizar estes arquivos? Demandaria muito tempo de meditação para que colocássemos tudo em ordem correto?

Correto! E é aqui que entra o nosso diário mágico. Vamos brincar um pouco? Vamos lá: imagine-se então como supervisor desta repartição pública. É terrível ver todo este caos: você não é capaz de medir a eficiência de seus funcionários, pois os arquivos que contém as informações necessárias estão tristemente organizados. É preciso fazer algo. Você decide então catalogar estes arquivos. Como novas pastas chegam à sua mesa a todo o tempo, você considera melhor deixar os arquivos antigos para um momento em que tenha um pouco mais de tempo. Vais até uma estante e escolhes um caderno limpo para que possas começar o trabalho de catalogação.

Cada relatório que chega a sua mesa é catalogado de forma que toda a informação possível acerca do trabalho feito por um de seus funcionários seja registrada. De repente você percebe que apenas um caderno não poderá refletir a realidade e organizar todos os dados. Você decide então listar os departamentos e escrever um caderno para cada um deles. Afinal, as finanças não podem se misturar com os recursos humanos não é? Se for preciso construir uma ponte entre eles, você decide que criará um caderno só para isso.

Seu trabalho vai muito bem e você percebe que agora é capaz de saber exatamente se um funcionário tem sido eficiente, quando seu desempenho melhora ou piora. Tudo com um acompanhamento diário que lhe permite, inclusive, compará-lo com funcionários do mesmo departamento ou de outros. Quando consegues algum tempo livre, você para e começa a organizar os arquivos antigos que estão nas salas do fundo do prédio.

Seu trabalho tem sido maravilhoso! No fim de um ano, ainda há alguma bagunça em sua repartição… Afinal, isso é normal não é? Mas agora você tem controle quase absoluto sobre tudo que acontece por lá.

Se compararmos nossa vida a esta repartição veremos o quão importantes são os diários mágicos. Através dos registros que fazemos neles somos capazes de observar, passo a passo, nosso caminho na Senda. Podemos medir os efeitos sensíveis e visíveis de nossas práticas e efetuar comparações entre elas.

Assim como as informações dos serviços feitos na empresa, devemos listar toda e qualquer informação que nos pareça relevante para construir um panorama geral acerca do que tem acontecido em nossa vida. Obviamente, o passado forma pilhas muito grandes para que possamos parar e catalogar tudo juntamente com as novas informações que nos chegam.

Por isso, além de catalogar nossas novas experiências em diários específicos, a prática meditativa constitui peça chave para que nossos diários mágicos desempenhem o máximo de sua eficiência. Através da meditação, podemos acessar aquelas salas no fundo da repartição e trabalhar com os arquivos mais antigos.

Assim, somos capazes de manter tudo no eixo e ter a certeza de que nossa perseverança tem constituído resultados em nossa vida. Que tal começar um diário hoje?

O Diário Mágico é algo simples de se fazer e um meio valioso de avaliar a nossa evolução perante a nossa jornada. Ele é basicamente um registro de experimentos, exercícios, insights, sonhos e demais experiências importantes durante a jornada iniciática. Parte das nossas memórias é produto de nossa imaginação, por isto registrar detalhadamente as nossas experiências nos priva de armadilhas de nossa própria mente. Ele é pessoal, porém, embora somente o autor tenha acesso a ele, deve-se escrevê-lo de forma a que outras pessoas também possam entendê-lo.

Aleister Crowley, em seu Líber E vel exercitiorum, dá ênfase a criação do diário mágico, onde lemos (adaptado):

1 – É absolutamente necessário que todos os experimentos sejam anotados detalhadamente, durante ou imediatamente após a sua realização.
2 – É muito importante anotar as condições físicas e mentais do(s) experimentador(es).
3 – A hora e o lugar de todos os experimentos devem ser anotados; também o estado do tempo e, em geral, todas as condições que poderiam ter alguma influência sobre os resultados dos experimentos, quer colaborando ou causando diretamente o resultado, quer o inibindo, ou como fontes de erro.
4 – Nesse estágio não é necessário que declaremos por completo o propósito de nossas pesquisas; nem seria este compreendido por aqueles que não se tornaram peritos nestes cursos elementares.
5 – Ao experimentador se aconselha que use sua própria inteligência, e não confie em qualquer outra pessoa, embora distinta, mesmo entre nós mesmos.
6 – O registro escrito dos experimentos deve ser feito de forma inteligível, para que outros possam se beneficiar de seu estudo.
7 – Quanto mais científico for o relatório, melhor. Contudo, as emoções devem ser anotadas, sendo parte das condições gerais. Que, então, o registro seja escrito com sinceridade e cuidado; com a prática, ele se aproximará cada vez mais do ideal.

Aqui temos um método de criação do Diário Mágico proposto pelo Veos (traduzido pelo Bardonista), bastante conhecido para os que estudam Bardon.

Um bom diário é reconhecido por sua precisão e seu detalhe. Ele não deveria ser os escritos desordenados de um homem louco, mas sim um registro organizado dos acontecimentos kármicos e práticas espirituais em sua vida. Existem coisas que deveriam estar presentes no diário do mago nessa ordem:

1. A data do calendário;
2. A data mágica (o dia da Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus, Saturno e Sol – segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo respectivamente);
3. A data celestial, que é a localização do Sol e da Lua no zodíaco na hora da primeira entrada;
4. A hora da entrada;
5. Os detalhes da prática, experiência, ou realização. No caso da prática, deve-se ser muito preciso quanto à duração da prática, sua natureza, e seus resultados;
6. Acima de tudo, seja verdadeiro consigo mesmo e brutal em sua autocrítica. Se você não praticar por um dia, deixe uma página inteira em branco e comece uma pagina nova no próximo dia.

Eis um exemplo de uma entrada de diário, com algumas explicações em parênteses:

25/05/09
Die Luna (Segunda-feira)
Sol 5Gem00 (O sol está no quinto grau de Gêmeos, zero horas e zero minutos)
Luna 27Gem16 (A lua está no vigésimo sétimo grau de Gêmeos, 16 horas)

08:00 – Acordei. Sem sonhos. Não me sinto com muita energia.
08:13 – Tomei banho e usei a magia da água para lavar o corpo astral. Sinto-me melhor.
08:30-08:50 – 10 malas de Japa em Om Namah Shivaya. Concentração foi ruim no início, mas lá pelo sétimo ou oitavo mala a mente ficou focada. Terminei me sentindo mentalmente leve e fresco, e sentindo alegria no Anahata Chakra.
09:00-09:10 – Sirshasana
09:10-09:20 – Sirvangasana
09:20-09:30 – Paschimottasana
09:30-09:35 – Matsyendrasana
09:35-09:40 – Bhujangasana. Todas as asanas foram boas, com boa concentração. Senti shakti na espinha durante paschimottasana muito intensamente.
09:45-10:15 – 20 Sukha Purvaka Pranayama no ciclo 5:20:10, 3 rondas de 10 Bhastrika Pranayama, 3 rondas de 50 Khapal Bhati Pranayama. Sinto a mente sutil e o corpo leve. Muito suor durante Sukha Purvaka seguido por estremecimento.
13:00-13:10 – 30 acumulações respiratórias de força vital nas mãos e então de volta para o universo. As mãos pareciam prestes a explodir com energia, e muito quentes.
20:00-20:30 – Controle do Pensamento. 20 interrupções menores, 3 interrupções maiores.
22:00-22:20 – Meditação no Senhor Shiva no chakra do coração. Bastante feliz.
22:45 – Lembrar de falar com o professor sobre as visualizações durante Sukha Purvaka!

Notas do Tradutor
1 – Veos comete quase o mesmo erro de Aleister Crowley, que iniciava os diários de maneira parecida. No caso de Crowley, ele escrevia a “data mágica” da seguinte maneira (por exemplo): Die Saturn, misturando latim e inglês. Veos tenta escrever a palavra latina correspondente a “dia” e o planeta correspondente também em latim, mas, na verdade, o correto gramaticalmente em latim seria:

Dies Solis (Domingo)
Dies Lunæ (Segunda-feira)
Dies Martis (Terça-feira)
Dies Mercurii (Quarta-feira)

Dies Jovis (Quinta-feira)
Dies Veneris (Sexta-feira)
Die Saturnii (Sábado)

Para algumas pessoas, o correto seria ter Diários Mágicos, pois cada um deve ter uma finalidade diferente. Então, deveria ter dois ou mais diários mágicos – um para anotar seus sonhos, outro para suas experiências em viagem astral, etc. Além disso, o ideal é que o diário seja físico, pois são existem inúmeros perigos de ter-se um diário mágico virtual.

Apresentei apenas um método, criado pelo Veos. Existem vários e o mais indicado é aquele que sua intuição indica ou faz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário